Convidados: Pr. JAMIERSON OLIVEIRA e o Pr. JONAS PINHO
Exibido: 14-10-2014
Prª Elisangela Barbosa Paixão da Costa, Serra, ES, Contato: +55(027)99701-5629, ipadpo@outlook.com.br
Confessa os teus pecados no tempo favorável
Se há aqui algum escravo do pecado, prepare-se pela fé para a regeneração na liberdade da adopção filial; e tendo abandonado a miserável escravatura dos pecados e submetendo-se ao suavíssimo jugo do Senhor, será digno de possuir a herança do reino celeste. Pela confissão dos pecados, despojai-vos do homem velho, viciado pelas seduções do mal, e revesti-vos do homem novo que se renova à imagem d’Aquele que o criou. Adquiri pela fé o penhor do Espírito Santo, para serdes recebidos nas moradas eternas. Aproximai-vos do místico sinal para poderdes ser reconhecidos favoravelmente pelo vosso Senhor. Reuni-vos ao santo e espiritual rebanho de Cristo, para que um dia, separados à sua direita, recebais em herança a vida que vos está preparada. Porque aqueles que estiverem ainda presos à aspereza do pecado, serão colocados à esquerda, por não se terem aproximado da graça de Deus, que é dada por Cristo na regeneração do Baptismo. Não me refiro, evidentemente, a uma regeneração corporal, mas ao renascimento espiritual da alma. Na verdade, os corpos são gerados pelos pais terrenos, mas as almas são regeneradas pela fé, porque o Espírito sopra onde quer. E então, se te tornares digno, se a tua consciência for encontrada livre de qualquer mancha ou falsidade, poderás ouvir aquela voz: Muito bem, servo bom e fiel. Se, no entanto, algum dos presentes julga que pode enganar a graça de Deus, ilude-se a si mesmo e desconhece o valor das coisas. Procura, ó homem, ter uma alma sincera e isenta de toda a simulação, porque Deus perscruta a mente e o coração. O tempo presente é tempo de conversão. Confessa o que fizeste, quer por palavras quer por obras, de noite ou de dia. Confessa-o no tempo favorável e receberás o tesouro celeste no dia da salvação. Purifica a tua ânfora, para que receba a graça com maior abundância; porque a remissão dos pecados é dada a todos por igual, mas a comunicação do Espírito Santo é concedida segundo a proporção da fé de cada um. Se trabalhares pouco, pouco receberás; mas se trabalhares muito, receberás uma grande recompensa. Corres para teu proveito; olha bem para a frente e vê o que te convém. Se tens alguma coisa contra alguém, perdoa. Aproximas-te para receberes o perdão dos pecados: é preciso que também tu perdoes a quem te ofendeu.
O sacrifício agradável a Deus é o espírito arrependido
Reconheço a minha culpa, diz David. Se eu a reconheço, dignai-Vos perdoá-la. Não presumamos de modo nenhum que vivemos rectamente e sem pecado. Será louvável a nossa vida, se não esquecemos a necessidade de pedir perdão. Mas os homens sem esperança, quanto menos preocupados estão com os seus pecados, tanto mais curiosos são sobre os pecados alheios. Não procuram corrigir, mas criticar. E como não podem escusar-se a si mesmos, estão sempre prontos para acusar os outros. Não é isso que nos ensina o salmista, quando orava e queria dar uma satisfação a Deus, dizendo: Eu reconheço a minha culpa, e o meu pecado está sempre diante de mim. O que assim ora não atende aos pecados alheios, mas examina-se a si mesmo; e não se vê só exteriormente, mas entra em si e desce ao mais profundo de si próprio. Não se perdoa a si mesmo, e por isso ousa confiadamente pedir perdão. Queres reconciliar-te com Deus? Repara como procedes para contigo, para que Deus te seja propício. Considera o que diz o mesmo salmo: Não é o sacrifício que Vos agrada; e se eu oferecer um holocausto, não o aceitareis. Então ficarás sem apresentar sacrifício algum? Poderás aplacar a Deus sem nenhuma oblação? Que diz o salmo? Não é o sacrifício que Vos agrada; e se eu oferecer um holocausto, não o aceitareis. Mas continua e ouve o que ele diz: Sacrifício agradável a Deus é o espírito arrependido; Deus não despreza o coração contrito e humilhado. Deus rejeita os antigos sacrifícios, mas mostra-te o que hás-de oferecer. Os nossos antepassados ofereciam vítimas do seu rebanho, e era este o seu sacrifício. Não é o sacrifício que Vos agrada. Não aceitais aqueles sacrifícios, mas quereis um sacrifício. Diz o salmista: Se eu oferecer um holocausto, não o aceitareis. Então, se não aceitais holocaustos, ficareis sem sacrifício? Longe disso. Sacrifício agradável a Deus é o espírito arrependido; Deus não despreza o coração contrito e humilhado. Aí tens o sacrifício que hás-de oferecer. Não lances o olhar para o rebanho; não prepares navios para ir em busca de perfumes até às mais longínquas terras. Procura no teu coração uma oferenda agradável a Deus. É o coração que deve ser atribulado. Receias que morra atribulado? Ouve ainda o salmo: Criai em mim, ó Deus, um coração puro. Portanto deve ser atribulado o coração impuro, para que seja criado um coração puro. Sintamos desgosto de nós mesmos quando pecamos, porque os pecados causam desgosto a Deus. E já que somos pecadores, sejamos semelhantes a Deus ao menos nisto, desgostando-nos com o que desgosta a Deus. Assim a tua vontade coincide em certo modo com a de Deus, porque te desagrada aquilo que também desagrada Àquele que te criou
A nossa oração é pública e universal
Em primeiro lugar, o Doutor da paz e Mestre da unidade não quis que a oração fosse exclusivamente individual e privada, a fim de não pedir só para si aquele que ora. Não dizemos: Meu Pai que estais nos Céus; nem: Dai-me hoje o meu pão; nem pede cada um que lhe seja perdoado apenas o seu pecado ou que não o deixe cair em tentação, ou que só ele seja livre do mal. A nossa oração é pública e universal; e quando rezamos, não rezamos por um só, mas por todos, porque formamos um só povo. O Deus da paz e Mestre da concórdia, que nos ensinou a unidade, quis que cada um orasse por todos, assim como Ele a todos assumiu na pessoa de um só. Observaram esta lei da oração os três jovens lançados na fornalha ardente, unindo‑se na mesma prece e conservando o mesmo espírito. E ao declarar-nos o modo como oraram os três jovens, a Escritura dá-nos um exemplo que devemos imitar nas nossas preces, para que sejamos semelhantes a eles. Então os jovens, diz a Escritura, numa só voz, louvavam, glorificavam e bendiziam a Deus. Falavam como se tivessem uma só voz; e, no entanto, Cristo ainda não os ensinara a rezar. Na verdade, as suas palavras foram ouvidas e eficazes, porque a sua oração, simples, espiritual e inspirada pelo vínculo da paz, atraiu a benevolência do Senhor. Também foi assim que os Apóstolos oraram com os discípulos, depois da ascensão do Senhor. Diz a Escritura: Todos perseveraram unidos na oração, com as mulheres e com Maria, Mãe de Jesus. Perseveravam unidos na oração, mostrando pela persistência e também pela unanimidade da sua oração que Deus, que reúne na mesma casa os que vivem em concórdia, não admite na morada divina e eterna senão aqueles cuja prece é unânime. Como são belos e grandiosos, irmãos caríssimos, os ensinamentos que nos revela a oração do Senhor! São breves as palavras que os resumem, mas é grande o seu poder espiritual. Não falta absolutamente nada nesta oração de súplica e de louvor, que forma um verdadeiro compêndio de doutrina celeste. Diz o Senhor: Orai assim: Pai nosso, que estais nos Céus. O homem novo, renascido e restituído ao seu Deus por meio da sua graça, diz em primeiro lugar «Pai», porque já começou a ser filho. Diz a Escritura: Veio para o que era seu e os seus não O receberam. Mas a quantos O receberam deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus, àqueles que acreditam no seu nome. Portanto, quem acredita no seu nome e se tornou filho de Deus deve começar por dar graças, professar que é filho de Deus, ao chamar a Deus seu Pai que está nos Céus.
Deus ouve os humildes de coração
As palavras e petições dos que oram devem ser ordenadas, tranquilas e discretas. Pensemos que estamos na presença de Deus e que devemos agradar aos seus olhos, tanto pela atitude do corpo como pelo tom da voz. Porque assim como é falta de educação falar em altos gritos, também é próprio de pessoas bem educadas rezarem com recolhimento e modéstia. De facto, o Senhor mandou-nos e ensinou-nos a rezar em segredo, nos lugares escondidos e remotos e até nos próprios aposentos. A fé ensina-nos que Deus está em toda a parte, escuta e vê a todos, e na plenitude da sua majestade penetra nos lugares mais recônditos, segundo está escrito: Eu sou um Deus próximo e não um Deus distante. Poderá um homem ocultar-se em lugares escondidos, sem que Eu o veja? Porventura, a minha presença não enche o céu e a terra? E noutra passagem: Em todo o lugar os olhos do Senhor observam os bons e os maus. E quando nos reunimos com os irmãos e celebramos o santo sacrifício com o sacerdote de Deus, devemos proceder com respeito e ordem, e não lançar desordenadamente ao vento as nossas orações com palavras rudes, nem pronunciar com loquacidade barulhenta aquela petição que deve ser apresentada a Deus com modesta dignidade. Deus ouve mais o coração do que as palavras. Não é preciso gritar para chamar a atenção de Deus, porque Ele vê os nossos pensamentos. bem o mostrou quando disse: Porque pensais mal em vossos corações? E noutro lugar: Todas as Igrejas saberão que Eu sou Aquele que perscruta os rins e os corações. Segundo conta o Primeiro Livro dos Reis, Ana, que era figura da Igreja, guardava e conservava interiormente as coisas que pedia a Deus, dirigindo-se a Ele não em altas vozes mas com silêncio e modéstia, no segredo do seu coração. Ao falar, a oração era escondida, mas a fé manifesta; não falava com a voz mas com o coração, sabendo que deste modo Deus a ouviria. Assim obteve o que pedia, porque pediu com fé. Afirma-o claramente a divina Escritura: Falava em seu coração; apenas movia os lábios, sem se lhe ouvir palavra alguma; mas o Senhor atendeu-a. Do mesmo modo lemos nos salmos: Orai em vossos corações; e arrependei-vos no silêncio dos vossos aposentos. O mesmo sugere e ensina o Espírito Santo por meio de Jeremias, quando diz: Dizei em vossos corações: só a Vós, Senhor, devemos adorar. Portanto, irmãos caríssimos, quem adora não deve ignorar o modo como o publicano orou no templo, juntamente com o fariseu. Não tinha os olhos atrevidamente levantados para o céu, nem erguia as mãos com insolência, mas, batendo no peito e confessando os pecados ocultos, implorava o auxílio da misericórdia divina. Entretanto o fariseu comprazia-se em si mesmo. Assim mereceu ser justificado o que orava com humildade, porque não tinha posto a esperança da sua salvação na própria inocência, pois ninguém é inocente. Orou, confessando humildemente os seus pecados. E Aquele que perdoa aos humildes escutou a sua oração.
A passagem do Jordão
No Jordão a arca da aliança guiava o povo de Deus. A ordem sacerdotal e levítica sustém o passo; e as águas, como que prestando reverência aos ministros de Deus, param o seu curso e juntam-se em alta muralha, oferecendo ao povo de Deus um caminho seguro. Não te admires, cristão, de te serem anunciados estes factos realizados em favor do antigo povo de Deus, porque a ti, que passaste o Jordão por meio do sacramento do baptismo, a palavra divina promete coisas muito maiores e mais admiráveis, e oferece um caminho e uma passagem para o Céu através dos ares. Escuta as palavras de Paulo a respeito dos justos: Seremos levados sobre as nuvens ao encontro de Cristo, através dos ares, e assim estaremos sempre com o Senhor. Não há absolutamente nada que o justo deva temer; todas as criaturas lhe estão sujeitas. Ouve também o que Deus lhe promete por meio do Profeta, dizendo: Ainda que passes pelo fogo, a chama não te queimará, porque eu sou o Senhor teu Deus. Por isso, todo o lugar acolhe o justo e todas as criaturas lhe prestam serviço. E não penses que isto foi realizado apenas em favor dos homens que te precederam, e que a ti, que és agora ouvinte destes prodígios, nada de semelhante acontecerá: tudo isso continua a realizar-se em ti, embora de maneira misteriosa. Na verdade, tu que já abandonaste as trevas da idolatria e desejas prestar ouvidos à lei divina, começaste desse modo a sair do Egipto. Quando foste agregado ao número dos catecúmenos e começaste a obedecer aos preceitos da Igreja, atravessaste o Mar Vermelho e, percorrendo as estações do deserto, todos os dias te entregas a ouvir a lei de Deus e a contemplar o rosto de Moisés, em que se revela a glória de Deus. E quando te aproximares da mística fonte baptismal e fores iniciado pela ordem sacerdotal e levítica naqueles venerandos e admiráveis sacramentos, que apenas conhecem aqueles a quem é lícito conhecê-los, então também tu atravessarás o Jordão, pelo ministério dos sacerdotes, e entrarás na terra prometida, na qual, depois de Moisés, te recebe Jesus, que será o guia do teu caminho novo. Então, recordando-te de tantas e tão grandes maravilhas de Deus, compreenderás que para ti se dividiu o mar e pararam as águas do rio, e dirás: Que tens, ó mar, para assim fugires, e tu, Jordão, para voltares atrás? Montes, porque saltais como carneiros, e vós, colinas, como cordeiros do rebanho? E responderá a palavra divina: A terra treme diante do Senhor, diante do Deus de Jacob, que transformou o rochedo em lago e a pedra em fonte das águas.
Quero ser cristão de facto e não apenas de nome
Nunca tivestes inveja de ninguém e ensinastes os outros. Ora aquilo que ensinais e ordenais aos outros, quero que conserve todo o seu vigor para mim. O que deveis pedir para mim é apenas que eu tenha fortaleza interior e exterior, para que seja firme não só no falar mas também no querer, para que seja cristão não só de nome mas de facto. Se proceder como cristão, terei direito a esse nome; e quando já não estiver visivelmente neste mundo, então serei verdadeiramente fiel. Nada é bom apenas pela aparência. O próprio Jesus Cristo, nosso Deus, agora que voltou para o Pai é que melhor Se manifesta. Perante as perseguições do mundo, o cristianismo não se afirma com palavras persuasivas, mas com grandeza de ânimo e fortaleza. Eu escrevo a todas as Igrejas e asseguro a todas elas que estou disposto a morrer de bom grado por Deus, se vós não o impedirdes. Peço-vos que não manifesteis por mim uma benevolência inoportuna. Deixai-me ser pasto das feras, pelas quais poderei chegar à posse de Deus. Sou trigo de Deus e devo ser moído pelos dentes das feras para me transformar em pão imaculado de Cristo. Acariciai antes as feras, para que sejam o meu sepulcro e não deixem nada do meu corpo, a fim de que no meu último sono eu não seja incómodo para ninguém. Quando o mundo já não puder ver o meu corpo, então serei verdadeiro discípulo de Cristo. Rezai por mim a Cristo, para que, por meio desses instrumentos, eu seja uma vítima oferecida a Deus. Não vos dou ordens como Pedro e Paulo. Eles eram apóstolos, eu sou um condenado; eles eram livres, eu por enquanto sou um escravo. Mas se padecer o martírio, então serei um liberto de Jesus Cristo e n’Ele ressuscitarei livre. Agora, que estou preso, aprendo a nada mais ambicionar. Desde a Síria até Roma, vou lutando já com as feras, por terra e por mar, de noite e de dia, atado a dez leopardos, isto é, a um grupo de soldados. Quanto melhor os trato, piores se tornam. Com os seus maus tratos vou-me aperfeiçoando, mas nem por isso me dou por justificado. Oh como desejo ter a felicidade de me encontrar diante das feras preparadas para mim, e que depressa se lancem sobre mim! Eu as incitarei, para que imediatamente me devorem, não suceda como noutras ocasiões, em que, atemorizadas, não se atreveram a tocar nas suas vítimas. Mas se recusarem atacar-me, eu mesmo as obrigarei. Perdoai-me o que digo; eu sei bem o que é bom para mim. É agora que eu começo a ser discípulo. Nenhuma coisa, visível ou invisível, me impeça de ir ter com Jesus Cristo. Venham sobre mim o fogo, a cruz, as manadas de feras, a dilaceração da carne, a desarticulação dos membros, o desconjuntamento dos ossos, a trituração de todo o corpo e os cruéis tormentos do demónio; venha tudo isso sobre mim, contanto que me sirvam para alcançar a Jesus Cristo.
Luz, esplendor, graça
Não devemos perder de vista a tradição, a doutrina e a fé da Igreja, tal como o Senhor a ensinou, tal como a pregaram os Apóstolos e a transmitiram os Santos Padres. De facto, a tradição constitui o alicerce da Igreja, e todo aquele que a abandona deixa de ser cristão e já não merece usar esse nome. Ora a nossa fé é esta: acreditamos na Trindade santa e perfeita, que é o Pai, o Filho e o Espírito Santo; não há n’Ela mistura de nenhum elemento estranho; não Se compõe de Criador e criatura; mas toda Ela é criadora e eficaz; uma só é a sua natureza, uma só é a sua eficiência e acção. O Pai cria todas as coisas por meio do Verbo, no Espírito Santo; e deste modo se afirma a unidade da Santíssima Trindade. Por isso se proclama na Igreja um só Deus, que está acima de tudo, actua em tudo e está em tudo. Está acima de tudo como Pai, princípio e origem; actua em tudo por meio do Verbo; e está em tudo no Espírito Santo. O apóstolo São Paulo, escrevendo aos coríntios acerca dos dons espirituais, tudo refere a Deus Pai como princípio de todas as coisas, dizendo: Há diversidade de dons espirituais, mas o Espírito é o mesmo; há diversidade de ministérios, mas o Senhor é o mesmo; e há diversidade de operações, mas é o mesmo Deus que realiza tudo em todos. Os dons que o Espírito distribui a cada um vêm do Pai, por meio do Verbo. De facto, tudo o que é do Pai é do Filho; e, portanto, as graças concedidas pelo Filho, no Espírito Santo, são dons do Pai. De igual modo, quando o Espírito está em nós, também em nós está o Verbo, de quem recebemos o Espírito; e, com o Verbo, está também o Pai. Assim se realiza o que diz a Escritura: O Pai e Eu viremos a ele e faremos nele a nossa morada. Porque onde está a luz, aí está também o esplendor da luz; e onde está o esplendor, aí está também a sua graça eficiente e esplendorosa. Isto mesmo no-lo ensina São Paulo na Segunda Epístola aos Coríntios com estas palavras: A graça de Nosso Senhor Jesus Cristo, o amor do Pai e a comunhão do Espírito Santo estejam convosco. Efectivamente, toda a graça que nos é dada em nome da Santíssima Trindade, vem do Pai, pelo Filho, no Espírito Santo. Assim como toda a graça nos vem do Pai por meio do Filho, assim também não podemos receber nenhuma graça senão no Espírito Santo, por cuja participação temos o amor do Pai, a graça do Filho e a comunhão do mesmo Espírito.
A vinda do Espírito Santo
O Senhor disse aos discípulos: Ide, ensinai todos os povos, baptizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Com este mandato, o Senhor dava-lhes o poder de regenerar os homens em Deus. Pelos Profetas tinha Deus prometido que nos últimos tempos derramaria o seu Espírito sobre os seus servos e servas, para que recebessem o dom da profecia. Por isso desceu o Espírito Santo sobre o Filho de Deus, que Se fez Filho do homem, habituando-Se com Ele a morar entre o género humano, a repousar sobre os homens e a habitar na criatura de Deus. Assim renovava os homens segundo a vontade do Pai, fazendo-os passar da sua antiga condição à vida nova de Cristo. São Lucas diz que este Espírito, depois da ascensão do Senhor, desceu sobre os discípulos no dia de Pentecostes, com o poder de dar a vida nova a todos os povos e de os fazer participar na Nova Aliança; por isso se uniram naquele dia todas as línguas no mesmo louvor de Deus, enquanto o Espírito congregava na unidade as tribos mais distantes e oferecia ao Pai as primícias de todas as nações O Senhor tinha prometido enviar-nos o Paráclito, que nos havia de preparar para receber a Deus. Assim como a farinha seca, sem a água, não se pode amassar para fazer um só pão, também nós, que somos muitos, não podíamos transformar-nos num só Corpo, em Cristo Jesus, sem a água que vem do Céu. E assim como a terra árida não dá fruto se não for regada, também nós, que éramos antes como uma árvore ressequida, nunca daríamos frutos de vida sem a chuva da graça que desce do alto. De facto, os nossos corpos receberam pela água do Baptismo aquela unidade que os leva à incorrupção, e as nossas almas receberam-na pelo Espírito. O Espírito de Deus desceu sobre o Senhor como Espírito de sabedoria e de inteligência, Espírito de conselho e de fortaleza, Espírito de ciência e de piedade, Espírito do temor de Deus. E é este mesmo Espírito que o Senhor por sua vez deu à Igreja, enviando lá do Céu o Paráclito sobre toda a terra, do Céu, de onde também Satanás fora precipitado como um relâmpago, segundo a palavra do Senhor. Por isso temos necessidade deste orvalho de Deus, para que dêmos fruto e não sejamos lançados ao fogo, e para que tenhamos também um Advogado onde temos um acusador. Efectivamente, o Senhor encomenda ao Espírito Santo o cuidado da sua criatura, daquele homem que caíra nas mãos dos ladrões e a quem Ele, cheio de compaixão, vendou as feridas, entregando dois denários reais, para que nós, recebendo pelo Espírito a imagem e inscrição do Pai e do Filho, façamos frutificar esse denário que nos foi confiado e o restituamos com bons rendimentos ao Senhor.
O Dom do Pai em Cristo
O Senhor mandou baptizar em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, isto é, na profissão de fé no Criador, no Filho Unigénito e no que é chamado Dom de Deus. Um só é o Criador de todas as coisas, porque um só é Deus Pai, de quem tudo procede, um só é o Filho Unigénito, Nosso Senhor Jesus Cristo, por quem tudo foi feito, e um só é o Espírito, que a todos nos foi dado. Tudo está, portanto, ordenado segundo as suas perfeições e méritos: um só Poder do qual tudo procede, um só Filho por quem tudo começa, um só Dom que é penhor da esperança perfeita. Nenhuma deficiência pode encontrar-se nesta perfeição infinita. Tudo é perfeitíssimo na Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo: a infinidade no Eterno, o esplendor na Imagem, a actividade no Dom. Ouçamos o que diz a palavra do Senhor sobre a acção do Espírito em nós: Tenho ainda muitas coisas a dizer-vos, mas agora não as podeis compreender. É melhor para vós que Eu vá; se Eu for, enviar-vos-ei o Paráclito. E noutro lugar: Eu pedirei ao Pai e Ele vos enviará outro Paráclito, para estar convosco eternamente, o Espírito da verdade. Ele vos ensinará toda a verdade, porque não falará de Si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e anunciar-vos-á as coisas que estão para vir. Ele Me glorificará, porque recebe do que é meu. Estas palavras, entre muitas outras, foram ditas para nos dar a conhecer a vontade d’Aquele que confere o Dom e a natureza e perfeição do mesmo Dom. Deste modo, já que a nossa debilidade não nos permite compreender nem o Pai nem o Filho, o Dom que é o Espírito Santo estabelece um certo contacto entre nós e Deus, para iluminar a nossa fé nas dificuldades relativas à Encarnação de Deus. Recebemo-l’O, portanto, para compreender. Assim como o corpo natural do homem permaneceria inactivo se lhe faltassem os estímulos necessários para as suas funções – os olhos, se não há luz ou não é dia, nada podem fazer; os ouvidos, na ausência de palavras ou de sons, não cumprem o seu ofício; o olfacto, sem emanações odoríferas, não exerce a sua função; não porque deixem de ter a sua capacidade natural por falta de estímulo, mas porque precisam de estímulo para actuar – assim também a alma humana, se não recebe pela fé o Dom que é o Espírito, tem certamente uma natureza capaz de conhecer a Deus, mas falta-lhe a luz para chegar a esse conhecimento. Este Dom de Cristo está todo à disposição de todos e encontra-Se em toda a parte; mas é dado na medida do desejo e dos méritos de cada um. Ele está connosco até ao fim do mundo; Ele é o consolador no tempo da nossa expectativa; Ele, pela actividade dos seus dons, é o penhor da nossa esperança futura; Ele é a luz do nosso espírito, Ele é o resplendor das nossas almas.
Abracei a doutrina verdadeira dos cristãos
Aqueles homens santos foram presos e levados ao prefeito de Roma, chamado Rústico. Estando eles diante do tribunal, o prefeito Rústico disse a Justino: «Primeiramente, manifesta a tua fé nos deuses e obedece aos imperadores». Justino respondeu: «Não podemos ser acusados nem presos por obedecer aos mandamentos de Jesus Cristo, nosso Salvador». Rústico perguntou: «Que doutrinas professas?». Justino disse: «Procurei conhecer todas as doutrinas, mas acabei por abraçar a doutrina verdadeira dos cristãos, embora ela não agrade àqueles que vivem no erro». O prefeito Rústico inquiriu: «Que verdade é essa?». Justino explicou: «Adoramos o Deus dos cristãos, a quem consideramos como o único criador, desde o princípio, e artífice de toda a criação, das coisas visíveis e invisíveis; e adoramos o Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, de quem foi anunciado pelos Profetas que viria ao género humano como mensageiro da salvação e mestre da boa doutrina. E eu, porque sou homem e nada mais, considero insignificante tudo o que digo para exprimir a sua divindade infinita, mas reconheço o valor das profecias, que previamente anunciaram Aquele que afirmei ser o Filho de Deus. Sei que eram inspirados por Deus os Profetas que vaticinaram a sua vinda para o meio dos homens». Rústico perguntou: «Portanto, tu és cristão?». Justino confirmou: «Sim, sou cristão». O prefeito disse a Justino: «Ouve, tu que és tido por sábio e julgas conhecer a verdadeira doutrina: se fores flagelado e decapitado estás convencido de que subirás ao Céu?». Justino respondeu: «Espero entrar naquela morada, se tiver de sofrer o que dizes, pois sei que a todos os que viverem santamente lhes está reservada a recompensa de Deus até ao fim dos séculos». O prefeito Rústico perguntou: «Então, tu supões que hás-de subir ao Céu, para receber algum prémio em retribuição?». Justino disse: «Não suponho, sei-o com toda a certeza». O prefeito Rústico retorquiu: «Bem, deixemos isso e vamos à questão de que se trata, à qual não podemos fugir e é urgente. Aproximai-vos e todos juntos sacrificai aos deuses». Justino respondeu-lhe: «Não há ninguém que, sem perder a razão, abandone a piedade para cair na impiedade». O prefeito Rústico continuou: «Se não fizerdes o que vos é mandado, sereis torturados sem compaixão». Justino disse: «Desejamos e esperamos chegar à salvação através dos tormentos que sofremos por amor de Nosso Senhor Jesus Cristo. O sofrimento garante-nos a salvação e dá-nos confiança perante o tribunal de nosso Senhor e Salvador, que é universal e mais terrível que o teu». E os outros mártires disseram o mesmo: «Faz o que quiseres; porque nós somos cristãos e não sacrificamos aos ídolos». O prefeito Rústico pronunciou então a sentença, dizendo: «Os que não quiseram sacrificar aos deuses e obedecer à ordem do imperador, sejam flagelados e conduzidos ao suplício, segundo as leis, para sofrerem a pena capital». Glorificando a Deus, os santos mártires saíram para o lugar do costume; e ali foram decapitados e consumaram o seu martírio, dando testemunho da fé no Salvador.
A acção do Espírito Santo
Qual é o homem que, ao ouvir os nomes com que é designado o Espírito Santo, não sente levantado o seu ânimo e não eleva o seu pensamento para a natureza divina? Chama-se Espírito de Deus, Espírito de verdade que procede do Pai, Espírito de rectidão, Espírito principal e, como nome próprio e peculiar, Espírito Santo. Para Ele voltam o seu olhar todos os que buscam a santificação, para Ele tende a aspiração de todos os que vivem segundo a virtude; é o seu alento que os revigora e reanima para atingirem o fim próprio e natural para que foram feitos. Ele é a fonte da santificação e a luz da inteligência; é Ele que dá, de Si mesmo, uma certa iluminação à nossa razão natural para que encontre a verdade. Inacessível pela sua natureza, torna-Se acessível pela sua bondade; tudo abrange com o seu poder, mas comunica-Se apenas àqueles que são dignos, não a todos na mesma medida, mas distribuindo os seus dons em proporção com a fé. Simples na essência, múltiplo nas manifestações do seu poder, está presente todo em cada um, sem deixar de estar todo em toda a parte. Reparte-Se e não sofre diminuição; todos d’Ele participam e permanece íntegro, à semelhança dos raios do sol, que fazem sentir a cada um a sua luz benéfica como se fosse para ele só, e contudo iluminam a terra e o mar e difundem-se pelo espaço. Assim também o Espírito Santo está presente em cada um dos que são capazes de O receber, como se estivesse nele só, e, não obstante, dá a todos a totalidade da graça que necessitam. Os que participam do Espírito recebem os seus dons na medida em que o permite a disposição de cada um, mas não na medida do poder do mesmo Espírito. Por Ele os corações são elevados para o alto, os fracos são conduzidos pela mão, os que progridem na virtude chegam à perfeição. Ele ilumina os que foram purificados de toda a mancha e torna-os espirituais pela comunhão com Ele. E como os corpos límpidos e transparentes, sob a acção da luz, se tornam também eles extraordinariamente brilhantes e irradiam um novo fulgor, assim as almas que possuem o Espírito e por Ele são iluminadas se tornam também elas espirituais e irradiam sobre os outros a sua graça. D’Ele procede a previsão do futuro, a inteligência dos mistérios, a compreensão das coisas ocultas, a distribuição dos carismas, a participação na vida do Céu, a companhia dos coros dos Anjos. D’Ele nos vem a alegria que não tem fim, a união constante e a semelhança com Deus; d’Ele procede, enfim, o bem mais sublime que se pode desejar: tornar-se o homem Deus
A água viva do Espírito Santo
A água que Eu lhe der tornar-se-á nele uma fonte de água viva, que jorra para a vida eterna. Novo género de água esta que vive e jorra; mas jorra apenas sobre os que são dignos dela. Mas porque é que o Senhor dá o nome de «água» à graça do Espírito? Certamente porque tudo tem necessidade de água; ela sustenta as ervas e os animais. A água da chuva cai dos céus; e embora caia sempre do mesmo modo e na mesma forma, produz efeitos muito variados. Não é, de facto, o mesmo, o efeito que produz na palmeira e na vide, e assim em todas as coisas, embora a sua natureza seja sempre a mesma e não possa ser diversa de si própria. Na verdade, a chuva não se modifica a si mesma em qualquer das suas manifestações; mas, ao cair sobre a terra, acomoda-se às estruturas dos seres que a recebem, dando a cada um deles o que necessita. De maneira semelhante, o Espírito Santo, sendo único, com uma única maneira de ser e indivisível, distribui por cada um a graça como lhe apraz. E assim como a árvore ressequida, ao receber a água, produz novos rebentos, assim também a alma pecadora, ao receber do Espírito Santo o dom do arrependimento, produz frutos de justiça. O Espírito tem um só e o mesmo modo de ser; mas, por vontade de Deus e pelos méritos de Cristo, produz efeitos diversos. Serve-se da língua de uns para comunicar o dom da sabedoria; ilumina a inteligência de outros com o dom da profecia. A este dá-lhe o poder de expulsar os demónios; àquele concede-lhe o dom de interpretar as divinas Escrituras. A uns fortalece-os na temperança, a outros ensina-lhes a misericórdia; a estes inspira a prática do jejum e os exercícios da vida ascética, e àqueles a sabedoria nas coisas temporais; a outros prepara-os para o martírio. Enfim, manifesta-Se de modo diferente em cada um, mas permanece sempre igual a Si mesmo, como está escrito: A cada um é dada a manifestação do Espírito para o bem comum. Branda e suave é a sua aproximação; benigna e agradável é a sua presença; levíssimo é o seu jugo. A sua vinda é precedida pelas irradiações resplandecentes da sua luz e da sua ciência. Ele vem como protector fraterno: vem para salvar, curar, ensinar, aconselhar, fortalecer, consolar, iluminar a alma de quem O recebe, e depois, por meio desse, a alma dos outros. E assim como aquele que se encontrava nas trevas, ao nascer do sol recebe nos olhos a sua luz e começa a contemplar com clareza o que antes não via, também o que se tornou digno do dom do Espírito Santo, recebe na alma a sua luz e, elevado acima da inteligência humana, começa a ver o que antes ignorava.
Ninguém subiu ao Céu, a não ser Aquele que desceu do Céu
Hoje, Nosso Senhor Jesus Cristo subiu ao Céu; suba também com Ele o nosso coração. Ouçamos o que nos diz o Apóstolo: Se ressuscitastes com Cristo, saboreai as coisas do alto, onde Cristo está sentado à direita de Deus; aspirai às coisas do alto, não às da terra. E assim como Ele subiu ao Céu sem Se afastar de nós, também nós subimos com Ele, embora não se tenha realizado ainda no nosso corpo o que nos está prometido. Ele já foi elevado ao mais alto dos Céus; e, contudo, continua a sofrer na terra através das tribulações que nós experimentamos como seus membros. Disso deu testemunho quando Se fez ouvir lá do Céu, dizendo: Saulo, Saulo, porque Me persegues? E noutra ocasião: Tive fome e destes-Me de comer. Porque não havemos também nós, enquanto trabalhamos ainda sobre a terra, de descansar já com Cristo no Céu, por meio da fé, esperança e caridade, que nos unem ao nosso Salvador? Cristo está no Céu, mas está também connosco; e nós, permanecendo na terra, estamos também com Ele. Ele está connosco pela sua divindade, pelo seu poder, pelo seu amor; nós, embora não possamos realizar isso pela divindade, como Ele, podemos realizá-lo ao menos pelo amor para com Ele. Ele não Se afastou do Céu quando de lá baixou até nós; também não Se afastou de nós quando de novo subiu ao Céu. Ele mesmo afi rma que Se encontrava no Céu quando vivia na terra, ao dizer: Ninguém subiu ao Céu, a não ser Aquele que desceu do Céu, o Filho do homem, que está no Céu. Isto foi dito para signifi car a unidade que existe entre Ele, nossa Cabeça, e nós, seu Corpo. E ninguém senão Ele podia realizar esta unidade que nos identifi ca com Ele mesmo, porque Ele Se fez Filho do homem por causa de nós, e nós por meio d’Ele nos tornámos fi lhos de Deus. Neste sentido diz o Apóstolo: Assim como o corpo é um só e tem muitos membros, e todos os membros, apesar de serem muitos, constituem um só corpo, assim também é Cristo. Não diz; «Assim é Cristo»; mas diz: Assim também é Cristo. Portanto, Cristo é um só corpo, formado por muitos membros. Por conseguinte, desceu do Céu por misericórdia e ninguém mais subiu senão Ele, porque nós estamos n’Ele pela graça. E desta maneira, ninguém mais desceu senão Cristo e ninguém mais subiu além de Cristo; e isto não quer dizer que a dignidade da Cabeça se confunde com a do Corpo, mas que a unidade do Corpo não se separa da Cabeça.
Dei-lhes a glória que Tu Me deste
Se o amor consegue expulsar completamente o temor, de tal modo que o temor se transforme em amor, então se compreende que é a unidade que alcança a salvação, porque a salvação consiste em estarmos todos unidos, pela nossa íntima adesão ao sumo e único bem, pela perfeição em que nos faz participar aquela pomba de que se fala no Cântico dos Cânticos. É o que parece depreender-se das palavras que se seguem: Uma só é a minha pomba, uma só é a minha perfeita; é a única filha de sua mãe, a predilecta daquela que a deu à luz. Isto mesmo nos ensina o Senhor mais claramente no Evangelho. Jesus abençoa os seus discípulos, dá-lhes todo o poder e concede-lhes os seus bens. Entre estes bens incluem-se também as santas expressões que dirige ao Pai. Mas entre todas as palavras que diz e as graças que concede, há uma que é a mais importante e como que a fonte e compêndio de tudo o mais. É aquela em que Ele adverte os seus para que nunca mais se encontrem divididos por divergência alguma no discernimento das opções a tomar, mas pelo contrário sejam um só coração e uma só alma, procurando acima de tudo a união com aquele único e sumo bem. Deste modo, unidos no Espírito Santo pelo vínculo da paz, como diz o Apóstolo, serão todos um só corpo e um só espírito, animados pela mesma esperança a que foram chamados. Mas será melhor referir textualmente as divinas palavras do Evangelho: Para que todos sejam um só, como Tu, Pai, em Mim e Eu em Ti; para que também eles sejam um só em Nós. O vínculo desta unidade é a glória. Nenhum homem inteligente poderá negar que este nome «glória» se atribui ao Espírito Santo, se recordar as palavras do Senhor: Dei-lhes a glória que Tu Me deste. Foi esta glória que o Senhor deu aos discípulos, quando lhes disse: Recebei o Espírito Santo. Ele possuiu sempre esta glória, ainda antes da existência do mundo; mas recebeu-a também ao assumir a natureza humana. E uma vez que a natureza humana de Cristo foi glorificada pelo Espírito Santo, a glória do Espírito foi comunicada a todos os que participam dessa natureza, a começar pelos Apóstolos. Por esta razão diz: Dei-lhes a glória que Tu Me deste; para que sejam um como Nós somos um; Eu neles e Tu em Mim, para que sejam perfeitos na unidade. Por isso, todo aquele que vai crescendo desde a infância até alcançar o estado de homem perfeito, chega àquela maturidade espiritual que só a inteligência iluminada pela fé pode compreender. Então será capaz de receber a glória do Espírito Santo, através de uma vida pura, livre de toda a mancha. É esta a pomba perfeita a que se refere o esposo quando afirma: Uma só é a minha pomba, uma só é a minha perfeita.
Alegrai-vos sempre no Senhor
O Apóstolo manda que nos alegremos, mas no Senhor, não no mundo. Todo o que quiser ser amigo deste mundo como diz a Escritura, será considerado inimigo de Deus. Assim como não pode um homem servir a dois senhores, assim ninguém pode alegrar-se ao mesmo tempo no mundo e no Senhor. Triunfe, portanto, a alegria no Senhor, até que termine a alegria no mundo. Cresça sempre a alegria no Senhor: diminua sempre a alegria no mundo, até se extinguir totalmente. Não quer isto dizer que não devemos alegrar-nos, enquanto estamos neste mundo; mas que, mesmo vivendo neste mundo, já nos alegremos no Senhor. Mas pode alguém observar: Eu estou no mundo; por isso, se me alegro, alegro-me precisamente onde estou. E daí? Por estares no mundo, não estás no Senhor? Escuta o mesmo Apóstolo, que, ao falar aos atenienses, dizia a respeito de Deus e do Senhor nosso criador, como lemos nos Actos dos Apóstolos: N’Ele vivemos, nos movemos e existimos. Ora quem está em toda a parte, onde é que não está? Não era para isto que ele nos exortava: O Senhor está perto, não vos inquieteis com coisa alguma? Admirável realidade é esta: Aquele que subiu acima de todos os Céus, está próximo dos que habitam na terra. Quem está longe e perto ao mesmo tempo, senão Aquele que por misericórdia Se tornou tão próximo de nós? Na verdade, todo o género humano está representado naquele homem que jazia meio-morto no caminho, abandonado pelos ladrões. Desprezaram-no, ao passar, o sacerdote e o levita; mas o samaritano, que também passava por ali, aproximou-se para o curar e socorrer. O Imortal e Justo, embora estivesse longe de nós, mortais e pecadores, desceu até nós, para ficar perto de nós quem antes estava longe. Na verdade, Ele não nos tratou segundo os nossos pecados, porque somos filhos. Como podemos provar isto? Morreu por nós o Filho único para deixar de ser único. Não quis ficar só, Ele que morreu só. O Filho único de Deus fez surgir muitos filhos de Deus. Comprou para si irmãos com o seu Sangue: quis ser condenado para nos justificar, vendido para nos resgatar, injuriado para nos dar glória, morto para nos dar vida. Portanto, irmãos, alegrai-vos no Senhor e não no mundo: quer dizer, alegrai-vos na verdade e não na iniquidade; alegrai-vos na esperança da eternidade e não nas flores da vaidade. Alegrai-vos assim em toda a parte e em todo o tempo que viverdes neste mundo: o Senhor está perto, não vos inquieteis com coisa alguma.