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sábado, 27 de maio de 2017

Homilias de Gregório de Nissa, bispo, sobre o Cântico dos Cânticos (Hom. 15: PG 44, 1115-1118) (Seculo IV)

Dei-lhes a glória que Tu Me deste

Se o amor consegue expulsar completamente o temor, de tal modo que o temor se transforme em amor, então se compreende que é a unidade que alcança a salvação, porque a salvação consiste em estarmos todos unidos, pela nossa íntima adesão ao sumo e único bem, pela perfeição em que nos faz participar aquela pomba de que se fala no Cântico dos Cânticos. É o que parece depreender-se das palavras que se seguem: Uma só é a minha pomba, uma só é a minha perfeita; é a única filha de sua mãe, a predilecta daquela que a deu à luz. Isto mesmo nos ensina o Senhor mais claramente no Evangelho. Jesus abençoa os seus discípulos, dá-lhes todo o poder e concede-lhes os seus bens. Entre estes bens incluem-se também as santas expressões que dirige ao Pai. Mas entre todas as palavras que diz e as graças que concede, há uma que é a mais importante e como que a fonte e compêndio de tudo o mais. É aquela em que Ele adverte os seus para que nunca mais se encontrem divididos por divergência alguma no discernimento das opções a tomar, mas pelo contrário sejam um só coração e uma só alma, procurando acima de tudo a união com aquele único e sumo bem. Deste modo, unidos no Espírito Santo pelo vínculo da paz, como diz o Apóstolo, serão todos um só corpo e um só espírito, animados pela mesma esperança a que foram chamados. Mas será melhor referir textualmente as divinas palavras do Evangelho: Para que todos sejam um só, como Tu, Pai, em Mim e Eu em Ti; para que também eles sejam um só em Nós. O vínculo desta unidade é a glória. Nenhum homem inteligente poderá negar que este nome «glória» se atribui ao Espírito Santo, se recordar as palavras do Senhor: Dei-lhes a glória que Tu Me deste. Foi esta glória que o Senhor deu aos discípulos, quando lhes disse: Recebei o Espírito Santo. Ele possuiu sempre esta glória, ainda antes da existência do mundo; mas recebeu-a também ao assumir a natureza humana. E uma vez que a natureza humana de Cristo foi glorificada pelo Espírito Santo, a glória do Espírito foi comunicada a todos os que participam dessa natureza, a começar pelos Apóstolos. Por esta razão diz: Dei-lhes a glória que Tu Me deste; para que sejam um como Nós somos um; Eu neles e Tu em Mim, para que sejam perfeitos na unidade. Por isso, todo aquele que vai crescendo desde a infância até alcançar o estado de homem perfeito, chega àquela maturidade espiritual que só a inteligência iluminada pela fé pode compreender. Então será capaz de receber a glória do Espírito Santo, através de uma vida pura, livre de toda a mancha. É esta a pomba perfeita a que se refere o esposo quando afirma: Uma só é a minha pomba, uma só é a minha perfeita.

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