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domingo, 18 de junho de 2017

Do Tratado de Cipriano, bispo e mártir, sobre a Oração Dominical (Nn. 8-9: CSEL 3, 271-272) (Sec. III)

A nossa oração é pública e universal

Em primeiro lugar, o Doutor da paz e Mestre da unidade não quis que a oração fosse exclusivamente individual e privada, a fim de não pedir só para si aquele que ora. Não dizemos: Meu Pai que estais nos Céus; nem: Dai-me hoje o meu pão; nem pede cada um que lhe seja perdoado apenas o seu pecado ou que não o deixe cair em tentação, ou que só ele seja livre do mal. A nossa oração é pública e universal; e quando rezamos, não rezamos por um só, mas por todos, porque formamos um só povo. O Deus da paz e Mestre da concórdia, que nos ensinou a unidade, quis que cada um orasse por todos, assim como Ele a todos assumiu na pessoa de um só. Observaram esta lei da oração os três jovens lançados na fornalha ardente, unindo‑se na mesma prece e conservando o mesmo espírito. E ao declarar-nos o modo como oraram os três jovens, a Escritura dá-nos um exemplo que devemos imitar nas nossas preces, para que sejamos semelhantes a eles. Então os jovens, diz a Escritura, numa só voz, louvavam, glorificavam e bendiziam a Deus. Falavam como se tivessem uma só voz; e, no entanto, Cristo ainda não os ensinara a rezar. Na verdade, as suas palavras foram ouvidas e eficazes, porque a sua oração, simples, espiritual e inspirada pelo vínculo da paz, atraiu a benevolência do Senhor. Também foi assim que os Apóstolos oraram com os discípulos, depois da ascensão do Senhor. Diz a Escritura: Todos perseveraram unidos na oração, com as mulheres e com Maria, Mãe de Jesus. Perseveravam unidos na oração, mostrando pela persistência e também pela unanimidade da sua oração que Deus, que reúne na mesma casa os que vivem em concórdia, não admite na morada divina e eterna senão aqueles cuja prece é unânime. Como são belos e grandiosos, irmãos caríssimos, os ensinamentos que nos revela a oração do Senhor! São breves as palavras que os resumem, mas é grande o seu poder espiritual. Não falta absolutamente nada nesta oração de súplica e de louvor, que forma um verdadeiro compêndio de doutrina celeste. Diz o Senhor: Orai assim: Pai nosso, que estais nos Céus. O homem novo, renascido e restituído ao seu Deus por meio da sua graça, diz em primeiro lugar «Pai», porque já começou a ser filho. Diz a Escritura: Veio para o que era seu e os seus não O receberam. Mas a quantos O receberam deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus, àqueles que acreditam no seu nome. Portanto, quem acredita no seu nome e se tornou filho de Deus deve começar por dar graças, professar que é filho de Deus, ao chamar a Deus seu Pai que está nos Céus.

Do Tratado de Cipriano, bispo e mártir, sobre a Oração Dominical (Nn. 4-6: CSEL 3, 268-270) (Seculo III)

Deus ouve os humildes de coração

As palavras e petições dos que oram devem ser ordenadas, tranquilas e discretas. Pensemos que estamos na presença de Deus e que devemos agradar aos seus olhos, tanto pela atitude do corpo como pelo tom da voz. Porque assim como é falta de educação falar em altos gritos, também é próprio de pessoas bem educadas rezarem com recolhimento e modéstia. De facto, o Senhor mandou-nos e ensinou-nos a rezar em segredo, nos lugares escondidos e remotos e até nos próprios aposentos. A fé ensina-nos que Deus está em toda a parte, escuta e vê a todos, e na plenitude da sua majestade penetra nos lugares mais recônditos, segundo está escrito: Eu sou um Deus próximo e não um Deus distante. Poderá um homem ocultar-se em lugares escondidos, sem que Eu o veja? Porventura, a minha presença não enche o céu e a terra? E noutra passagem: Em todo o lugar os olhos do Senhor observam os bons e os maus. E quando nos reunimos com os irmãos e celebramos o santo sacrifício com o sacerdote de Deus, devemos proceder com respeito e ordem, e não lançar desordenadamente ao vento as nossas orações com palavras rudes, nem pronunciar com loquacidade barulhenta aquela petição que deve ser apresentada a Deus com modesta dignidade. Deus ouve mais o coração do que as palavras. Não é preciso gritar para chamar a atenção de Deus, porque Ele vê os nossos pensamentos. bem o mostrou quando disse: Porque pensais mal em vossos corações? E noutro lugar: Todas as Igrejas saberão que Eu sou Aquele que perscruta os rins e os corações. Segundo conta o Primeiro Livro dos Reis, Ana, que era figura da Igreja, guardava e conservava interiormente as coisas que pedia a Deus, dirigindo-se a Ele não em altas vozes mas com silêncio e modéstia, no segredo do seu coração. Ao falar, a oração era escondida, mas a fé manifesta; não falava com a voz mas com o coração, sabendo que deste modo Deus a ouviria. Assim obteve o que pedia, porque pediu com fé. Afirma-o claramente a divina Escritura: Falava em seu coração; apenas movia os lábios, sem se lhe ouvir palavra alguma; mas o Senhor atendeu-a. Do mesmo modo lemos nos salmos: Orai em vossos corações; e arrependei-vos no silêncio dos vossos aposentos. O mesmo sugere e ensina o Espírito Santo por meio de Jeremias, quando diz: Dizei em vossos corações: só a Vós, Senhor, devemos adorar. Portanto, irmãos caríssimos, quem adora não deve ignorar o modo como o publicano orou no templo, juntamente com o fariseu. Não tinha os olhos atrevidamente levantados para o céu, nem erguia as mãos com insolência, mas, batendo no peito e confessando os pecados ocultos, implorava o auxílio da misericórdia divina. Entretanto o fariseu comprazia-se em si mesmo. Assim mereceu ser justificado o que orava com humildade, porque não tinha posto a esperança da sua salvação na própria inocência, pois ninguém é inocente. Orou, confessando humildemente os seus pecados. E Aquele que perdoa aos humildes escutou a sua oração.