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domingo, 18 de junho de 2017

Do Tratado de Cipriano, bispo e mártir, sobre a Oração Dominical (Nn. 4-6: CSEL 3, 268-270) (Seculo III)

Deus ouve os humildes de coração

As palavras e petições dos que oram devem ser ordenadas, tranquilas e discretas. Pensemos que estamos na presença de Deus e que devemos agradar aos seus olhos, tanto pela atitude do corpo como pelo tom da voz. Porque assim como é falta de educação falar em altos gritos, também é próprio de pessoas bem educadas rezarem com recolhimento e modéstia. De facto, o Senhor mandou-nos e ensinou-nos a rezar em segredo, nos lugares escondidos e remotos e até nos próprios aposentos. A fé ensina-nos que Deus está em toda a parte, escuta e vê a todos, e na plenitude da sua majestade penetra nos lugares mais recônditos, segundo está escrito: Eu sou um Deus próximo e não um Deus distante. Poderá um homem ocultar-se em lugares escondidos, sem que Eu o veja? Porventura, a minha presença não enche o céu e a terra? E noutra passagem: Em todo o lugar os olhos do Senhor observam os bons e os maus. E quando nos reunimos com os irmãos e celebramos o santo sacrifício com o sacerdote de Deus, devemos proceder com respeito e ordem, e não lançar desordenadamente ao vento as nossas orações com palavras rudes, nem pronunciar com loquacidade barulhenta aquela petição que deve ser apresentada a Deus com modesta dignidade. Deus ouve mais o coração do que as palavras. Não é preciso gritar para chamar a atenção de Deus, porque Ele vê os nossos pensamentos. bem o mostrou quando disse: Porque pensais mal em vossos corações? E noutro lugar: Todas as Igrejas saberão que Eu sou Aquele que perscruta os rins e os corações. Segundo conta o Primeiro Livro dos Reis, Ana, que era figura da Igreja, guardava e conservava interiormente as coisas que pedia a Deus, dirigindo-se a Ele não em altas vozes mas com silêncio e modéstia, no segredo do seu coração. Ao falar, a oração era escondida, mas a fé manifesta; não falava com a voz mas com o coração, sabendo que deste modo Deus a ouviria. Assim obteve o que pedia, porque pediu com fé. Afirma-o claramente a divina Escritura: Falava em seu coração; apenas movia os lábios, sem se lhe ouvir palavra alguma; mas o Senhor atendeu-a. Do mesmo modo lemos nos salmos: Orai em vossos corações; e arrependei-vos no silêncio dos vossos aposentos. O mesmo sugere e ensina o Espírito Santo por meio de Jeremias, quando diz: Dizei em vossos corações: só a Vós, Senhor, devemos adorar. Portanto, irmãos caríssimos, quem adora não deve ignorar o modo como o publicano orou no templo, juntamente com o fariseu. Não tinha os olhos atrevidamente levantados para o céu, nem erguia as mãos com insolência, mas, batendo no peito e confessando os pecados ocultos, implorava o auxílio da misericórdia divina. Entretanto o fariseu comprazia-se em si mesmo. Assim mereceu ser justificado o que orava com humildade, porque não tinha posto a esperança da sua salvação na própria inocência, pois ninguém é inocente. Orou, confessando humildemente os seus pecados. E Aquele que perdoa aos humildes escutou a sua oração.

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