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segunda-feira, 12 de junho de 2017

Das Homilias de Orígenes, presbítero, sobre o Livro de Josué (Hom. 4, 1: PG 12, 842-843) (Sec. III)

A passagem do Jordão

No Jordão a arca da aliança guiava o povo de Deus. A ordem sacerdotal e levítica sustém o passo; e as águas, como que prestando reverência aos ministros de Deus, param o seu curso e juntam-se em alta muralha, oferecendo ao povo de Deus um caminho seguro. Não te admires, cristão, de te serem anunciados estes factos realizados em favor do antigo povo de Deus, porque a ti, que passaste o Jordão por meio do sacramento do baptismo, a palavra divina promete coisas muito maiores e mais admiráveis, e oferece um caminho e uma passagem para o Céu através dos ares. Escuta as palavras de Paulo a respeito dos justos: Seremos levados sobre as nuvens ao encontro de Cristo, através dos ares, e assim estaremos sempre com o Senhor. Não há absolutamente nada que o justo deva temer; todas as criaturas lhe estão sujeitas. Ouve também o que Deus lhe promete por meio do Profeta, dizendo: Ainda que passes pelo fogo, a chama não te queimará, porque eu sou o Senhor teu Deus. Por isso, todo o lugar acolhe o justo e todas as criaturas lhe prestam serviço. E não penses que isto foi realizado apenas em favor dos homens que te precederam, e que a ti, que és agora ouvinte destes prodígios, nada de semelhante acontecerá: tudo isso continua a realizar-se em ti, embora de maneira misteriosa. Na verdade, tu que já abandonaste as trevas da idolatria e desejas prestar ouvidos à lei divina, começaste desse modo a sair do Egipto. Quando foste agregado ao número dos catecúmenos e começaste a obedecer aos preceitos da Igreja, atravessaste o Mar Vermelho e, percorrendo as estações do deserto, todos os dias te entregas a ouvir a lei de Deus e a contemplar o rosto de Moisés, em que se revela a glória de Deus. E quando te aproximares da mística fonte baptismal e fores iniciado pela ordem sacerdotal e levítica naqueles venerandos e admiráveis sacramentos, que apenas conhecem aqueles a quem é lícito conhecê-los, então também tu atravessarás o Jordão, pelo ministério dos sacerdotes, e entrarás na terra prometida, na qual, depois de Moisés, te recebe Jesus, que será o guia do teu caminho novo. Então, recordando-te de tantas e tão grandes maravilhas de Deus, compreenderás que para ti se dividiu o mar e pararam as águas do rio, e dirás: Que tens, ó mar, para assim fugires, e tu, Jordão, para voltares atrás? Montes, porque saltais como carneiros, e vós, colinas, como cordeiros do rebanho? E responderá a palavra divina: A terra treme diante do Senhor, diante do Deus de Jacob, que transformou o rochedo em lago e a pedra em fonte das águas.

Da Carta de Inácio de Antioquia, bispo e mártir, aos Romanos (3, 1 – 5, 3: Funk 1, 215-219) (Sec. I)

Quero ser cristão de facto e não apenas de nome

Nunca tivestes inveja de ninguém e ensinastes os outros. Ora aquilo que ensinais e ordenais aos outros, quero que conserve todo o seu vigor para mim. O que deveis pedir para mim é apenas que eu tenha fortaleza interior e exterior, para que seja firme não só no falar mas também no querer, para que seja cristão não só de nome mas de facto. Se proceder como cristão, terei direito a esse nome; e quando já não estiver visivelmente neste mundo, então serei verdadeiramente fiel. Nada é bom apenas pela aparência. O próprio Jesus Cristo, nosso Deus, agora que voltou para o Pai é que melhor Se manifesta. Perante as perseguições do mundo, o cristianismo não se afirma com palavras persuasivas, mas com grandeza de ânimo e fortaleza. Eu escrevo a todas as Igrejas e asseguro a todas elas que estou disposto a morrer de bom grado por Deus, se vós não o impedirdes. Peço-vos que não manifesteis por mim uma benevolência inoportuna. Deixai-me ser pasto das feras, pelas quais poderei chegar à posse de Deus. Sou trigo de Deus e devo ser moído pelos dentes das feras para me transformar em pão imaculado de Cristo. Acariciai antes as feras, para que sejam o meu sepulcro e não deixem nada do meu corpo, a fim de que no meu último sono eu não seja incómodo para ninguém. Quando o mundo já não puder ver o meu corpo, então serei verdadeiro discípulo de Cristo. Rezai por mim a Cristo, para que, por meio desses instrumentos, eu seja uma vítima oferecida a Deus. Não vos dou ordens como Pedro e Paulo. Eles eram apóstolos, eu sou um condenado; eles eram livres, eu por enquanto sou um escravo. Mas se padecer o martírio, então serei um liberto de Jesus Cristo e n’Ele ressuscitarei livre. Agora, que estou preso, aprendo a nada mais ambicionar. Desde a Síria até Roma, vou lutando já com as feras, por terra e por mar, de noite e de dia, atado a dez leopardos, isto é, a um grupo de soldados. Quanto melhor os trato, piores se tornam. Com os seus maus tratos vou-me aperfeiçoando, mas nem por isso me dou por justificado. Oh como desejo ter a felicidade de me encontrar diante das feras preparadas para mim, e que depressa se lancem sobre mim! Eu as incitarei, para que imediatamente me devorem, não suceda como noutras ocasiões, em que, atemorizadas, não se atreveram a tocar nas suas vítimas. Mas se recusarem atacar-me, eu mesmo as obrigarei. Perdoai-me o que digo; eu sei bem o que é bom para mim. É agora que eu começo a ser discípulo. Nenhuma coisa, visível ou invisível, me impeça de ir ter com Jesus Cristo. Venham sobre mim o fogo, a cruz, as manadas de feras, a dilaceração da carne, a desarticulação dos membros, o desconjuntamento dos ossos, a trituração de todo o corpo e os cruéis tormentos do demónio; venha tudo isso sobre mim, contanto que me sirvam para alcançar a Jesus Cristo.

Das Cartas de Atanásio, bispo (Ep. 1 ad Serapionem, 28-30: PG 26, 594-595) (Sec. IV)

Luz, esplendor, graça

Não devemos perder de vista a tradição, a doutrina e a fé da Igreja, tal como o Senhor a ensinou, tal como a pregaram os Apóstolos e a transmitiram os Santos Padres. De facto, a tradição constitui o alicerce da Igreja, e todo aquele que a abandona deixa de ser cristão e já não merece usar esse nome. Ora a nossa fé é esta: acreditamos na Trindade santa e perfeita, que é o Pai, o Filho e o Espírito Santo; não há n’Ela mistura de nenhum elemento estranho; não Se compõe de Criador e criatura; mas toda Ela é criadora e eficaz; uma só é a sua natureza, uma só é a sua eficiência e acção. O Pai cria todas as coisas por meio do Verbo, no Espírito Santo; e deste modo se afirma a unidade da Santíssima Trindade. Por isso se proclama na Igreja um só Deus, que está acima de tudo, actua em tudo e está em tudo. Está acima de tudo como Pai, princípio e origem; actua em tudo por meio do Verbo; e está em tudo no Espírito Santo. O apóstolo São Paulo, escrevendo aos coríntios acerca dos dons espirituais, tudo refere a Deus Pai como princípio de todas as coisas, dizendo: Há diversidade de dons espirituais, mas o Espírito é o mesmo; há diversidade de ministérios, mas o Senhor é o mesmo; e há diversidade de operações, mas é o mesmo Deus que realiza tudo em todos. Os dons que o Espírito distribui a cada um vêm do Pai, por meio do Verbo. De facto, tudo o que é do Pai é do Filho; e, portanto, as graças concedidas pelo Filho, no Espírito Santo, são dons do Pai. De igual modo, quando o Espírito está em nós, também em nós está o Verbo, de quem recebemos o Espírito; e, com o Verbo, está também o Pai. Assim se realiza o que diz a Escritura: O Pai e Eu viremos a ele e faremos nele a nossa morada. Porque onde está a luz, aí está também o esplendor da luz; e onde está o esplendor, aí está também a sua graça eficiente e esplendorosa. Isto mesmo no-lo ensina São Paulo na Segunda Epístola aos Coríntios com estas palavras: A graça de Nosso Senhor Jesus Cristo, o amor do Pai e a comunhão do Espírito Santo estejam convosco. Efectivamente, toda a graça que nos é dada em nome da Santíssima Trindade, vem do Pai, pelo Filho, no Espírito Santo. Assim como toda a graça nos vem do Pai por meio do Filho, assim também não podemos receber nenhuma graça senão no Espírito Santo, por cuja participação temos o amor do Pai, a graça do Filho e a comunhão do mesmo Espírito.