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terça-feira, 30 de maio de 2017

Do Tratado de Basílio Magno, bispo, sobre o Espírito Santo (Cap. 9, 22-23: PG 32, 107-110) (Sec. IV)

A acção do Espírito Santo

Qual é o homem que, ao ouvir os nomes com que é designado o Espírito Santo, não sente levantado o seu ânimo e não eleva o seu pensamento para a natureza divina? Chama-se Espírito de Deus, Espírito de verdade que procede do Pai, Espírito de rectidão, Espírito principal e, como nome próprio e peculiar, Espírito Santo. Para Ele voltam o seu olhar todos os que buscam a santificação, para Ele tende a aspiração de todos os que vivem segundo a virtude; é o seu alento que os revigora e reanima para atingirem o fim próprio e natural para que foram feitos. Ele é a fonte da santificação e a luz da inteligência; é Ele que dá, de Si mesmo, uma certa iluminação à nossa razão natural para que encontre a verdade. Inacessível pela sua natureza, torna-Se acessível pela sua bondade; tudo abrange com o seu poder, mas comunica-Se apenas àqueles que são dignos, não a todos na mesma medida, mas distribuindo os seus dons em proporção com a fé. Simples na essência, múltiplo nas manifestações do seu poder, está presente todo em cada um, sem deixar de estar todo em toda a parte. Reparte-Se e não sofre diminuição; todos d’Ele participam e permanece íntegro, à semelhança dos raios do sol, que fazem sentir a cada um a sua luz benéfica como se fosse para ele só, e contudo iluminam a terra e o mar e difundem-se pelo espaço. Assim também o Espírito Santo está presente em cada um dos que são capazes de O receber, como se estivesse nele só, e, não obstante, dá a todos a totalidade da graça que necessitam. Os que participam do Espírito recebem os seus dons na medida em que o permite a disposição de cada um, mas não na medida do poder do mesmo Espírito. Por Ele os corações são elevados para o alto, os fracos são conduzidos pela mão, os que progridem na virtude chegam à perfeição. Ele ilumina os que foram purificados de toda a mancha e torna-os espirituais pela comunhão com Ele. E como os corpos límpidos e transparentes, sob a acção da luz, se tornam também eles extraordinariamente brilhantes e irradiam um novo fulgor, assim as almas que possuem o Espírito e por Ele são iluminadas se tornam também elas espirituais e irradiam sobre os outros a sua graça. D’Ele procede a previsão do futuro, a inteligência dos mistérios, a compreensão das coisas ocultas, a distribuição dos carismas, a participação na vida do Céu, a companhia dos coros dos Anjos. D’Ele nos vem a alegria que não tem fim, a união constante e a semelhança com Deus; d’Ele procede, enfim, o bem mais sublime que se pode desejar: tornar-se o homem Deus

domingo, 28 de maio de 2017

Catequeses de Cirilo de Jerusalém, bispo (Cat. 16, Sobre o Espírito Santo 1, 11-12. 16: PG 33, 931-935.939-942) (Seculo IV)

A água viva do Espírito Santo

A água que Eu lhe der tornar-se-á nele uma fonte de água viva, que jorra para a vida eterna. Novo género de água esta que vive e jorra; mas jorra apenas sobre os que são dignos dela. Mas porque é que o Senhor dá o nome de «água» à graça do Espírito? Certamente porque tudo tem necessidade de água; ela sustenta as ervas e os animais. A água da chuva cai dos céus; e embora caia sempre do mesmo modo e na mesma forma, produz efeitos muito variados. Não é, de facto, o mesmo, o efeito que produz na palmeira e na vide, e assim em todas as coisas, embora a sua natureza seja sempre a mesma e não possa ser diversa de si própria. Na verdade, a chuva não se modifica a si mesma em qualquer das suas manifestações; mas, ao cair sobre a terra, acomoda-se às estruturas dos seres que a recebem, dando a cada um deles o que necessita. De maneira semelhante, o Espírito Santo, sendo único, com uma única maneira de ser e indivisível, distribui por cada um a graça como lhe apraz. E assim como a árvore ressequida, ao receber a água, produz novos rebentos, assim também a alma pecadora, ao receber do Espírito Santo o dom do arrependimento, produz frutos de justiça. O Espírito tem um só e o mesmo modo de ser; mas, por vontade de Deus e pelos méritos de Cristo, produz efeitos diversos. Serve-se da língua de uns para comunicar o dom da sabedoria; ilumina a inteligência de outros com o dom da profecia. A este dá-lhe o poder de expulsar os demónios; àquele concede-lhe o dom de interpretar as divinas Escrituras. A uns fortalece-os na temperança, a outros ensina-lhes a misericórdia; a estes inspira a prática do jejum e os exercícios da vida ascética, e àqueles a sabedoria nas coisas temporais; a outros prepara-os para o martírio. Enfim, manifesta-Se de modo diferente em cada um, mas permanece sempre igual a Si mesmo, como está escrito: A cada um é dada a manifestação do Espírito para o bem comum. Branda e suave é a sua aproximação; benigna e agradável é a sua presença; levíssimo é o seu jugo. A sua vinda é precedida pelas irradiações resplandecentes da sua luz e da sua ciência. Ele vem como protector fraterno: vem para salvar, curar, ensinar, aconselhar, fortalecer, consolar, iluminar a alma de quem O recebe, e depois, por meio desse, a alma dos outros. E assim como aquele que se encontrava nas trevas, ao nascer do sol recebe nos olhos a sua luz e começa a contemplar com clareza o que antes não via, também o que se tornou digno do dom do Espírito Santo, recebe na alma a sua luz e, elevado acima da inteligência humana, começa a ver o que antes ignorava.

sábado, 27 de maio de 2017

Sermões de Agostinho, bispo (Sermão da Ascensão do Senhor, Mai 98, 1-2: PLS 2, 494-495) (Sec. V)

Ninguém subiu ao Céu, a não ser Aquele que desceu do Céu

Hoje, Nosso Senhor Jesus Cristo subiu ao Céu; suba também com Ele o nosso coração. Ouçamos o que nos diz o Apóstolo: Se ressuscitastes com Cristo, saboreai as coisas do alto, onde Cristo está sentado à direita de Deus; aspirai às coisas do alto, não às da terra. E assim como Ele subiu ao Céu sem Se afastar de nós, também nós subimos com Ele, embora não se tenha realizado ainda no nosso corpo o que nos está prometido. Ele já foi elevado ao mais alto dos Céus; e, contudo, continua a sofrer na terra através das tribulações que nós experimentamos como seus membros. Disso deu testemunho quando Se fez ouvir lá do Céu, dizendo: Saulo, Saulo, porque Me persegues? E noutra ocasião: Tive fome e destes-Me de comer. Porque não havemos também nós, enquanto trabalhamos ainda sobre a terra, de descansar já com Cristo no Céu, por meio da fé, esperança e caridade, que nos unem ao nosso Salvador? Cristo está no Céu, mas está também connosco; e nós, permanecendo na terra, estamos também com Ele. Ele está connosco pela sua divindade, pelo seu poder, pelo seu amor; nós, embora não possamos realizar isso pela divindade, como Ele, podemos realizá-lo ao menos pelo amor para com Ele. Ele não Se afastou do Céu quando de lá baixou até nós; também não Se afastou de nós quando de novo subiu ao Céu. Ele mesmo afi rma que Se encontrava no Céu quando vivia na terra, ao dizer: Ninguém subiu ao Céu, a não ser Aquele que desceu do Céu, o Filho do homem, que está no Céu. Isto foi dito para signifi car a unidade que existe entre Ele, nossa Cabeça, e nós, seu Corpo. E ninguém senão Ele podia realizar esta unidade que nos identifi ca com Ele mesmo, porque Ele Se fez Filho do homem por causa de nós, e nós por meio d’Ele nos tornámos fi lhos de Deus. Neste sentido diz o Apóstolo: Assim como o corpo é um só e tem muitos membros, e todos os membros, apesar de serem muitos, constituem um só corpo, assim também é Cristo. Não diz; «Assim é Cristo»; mas diz: Assim também é Cristo. Portanto, Cristo é um só corpo, formado por muitos membros. Por conseguinte, desceu do Céu por misericórdia e ninguém mais subiu senão Ele, porque nós estamos n’Ele pela graça. E desta maneira, ninguém mais desceu senão Cristo e ninguém mais subiu além de Cristo; e isto não quer dizer que a dignidade da Cabeça se confunde com a do Corpo, mas que a unidade do Corpo não se separa da Cabeça.

Homilias de Gregório de Nissa, bispo, sobre o Cântico dos Cânticos (Hom. 15: PG 44, 1115-1118) (Seculo IV)

Dei-lhes a glória que Tu Me deste

Se o amor consegue expulsar completamente o temor, de tal modo que o temor se transforme em amor, então se compreende que é a unidade que alcança a salvação, porque a salvação consiste em estarmos todos unidos, pela nossa íntima adesão ao sumo e único bem, pela perfeição em que nos faz participar aquela pomba de que se fala no Cântico dos Cânticos. É o que parece depreender-se das palavras que se seguem: Uma só é a minha pomba, uma só é a minha perfeita; é a única filha de sua mãe, a predilecta daquela que a deu à luz. Isto mesmo nos ensina o Senhor mais claramente no Evangelho. Jesus abençoa os seus discípulos, dá-lhes todo o poder e concede-lhes os seus bens. Entre estes bens incluem-se também as santas expressões que dirige ao Pai. Mas entre todas as palavras que diz e as graças que concede, há uma que é a mais importante e como que a fonte e compêndio de tudo o mais. É aquela em que Ele adverte os seus para que nunca mais se encontrem divididos por divergência alguma no discernimento das opções a tomar, mas pelo contrário sejam um só coração e uma só alma, procurando acima de tudo a união com aquele único e sumo bem. Deste modo, unidos no Espírito Santo pelo vínculo da paz, como diz o Apóstolo, serão todos um só corpo e um só espírito, animados pela mesma esperança a que foram chamados. Mas será melhor referir textualmente as divinas palavras do Evangelho: Para que todos sejam um só, como Tu, Pai, em Mim e Eu em Ti; para que também eles sejam um só em Nós. O vínculo desta unidade é a glória. Nenhum homem inteligente poderá negar que este nome «glória» se atribui ao Espírito Santo, se recordar as palavras do Senhor: Dei-lhes a glória que Tu Me deste. Foi esta glória que o Senhor deu aos discípulos, quando lhes disse: Recebei o Espírito Santo. Ele possuiu sempre esta glória, ainda antes da existência do mundo; mas recebeu-a também ao assumir a natureza humana. E uma vez que a natureza humana de Cristo foi glorificada pelo Espírito Santo, a glória do Espírito foi comunicada a todos os que participam dessa natureza, a começar pelos Apóstolos. Por esta razão diz: Dei-lhes a glória que Tu Me deste; para que sejam um como Nós somos um; Eu neles e Tu em Mim, para que sejam perfeitos na unidade. Por isso, todo aquele que vai crescendo desde a infância até alcançar o estado de homem perfeito, chega àquela maturidade espiritual que só a inteligência iluminada pela fé pode compreender. Então será capaz de receber a glória do Espírito Santo, através de uma vida pura, livre de toda a mancha. É esta a pomba perfeita a que se refere o esposo quando afirma: Uma só é a minha pomba, uma só é a minha perfeita.

Sermões de Agostinho, bispo (Sermão 171, 1-3. 5: PL 38, 933-935) (Seculo V)

Alegrai-vos sempre no Senhor

O Apóstolo manda que nos alegremos, mas no Senhor, não no mundo. Todo o que quiser ser amigo deste mundo como diz a Escritura, será considerado inimigo de Deus. Assim como não pode um homem servir a dois senhores, assim ninguém pode alegrar-se ao mesmo tempo no mundo e no Senhor. Triunfe, portanto, a alegria no Senhor, até que termine a alegria no mundo. Cresça sempre a alegria no Senhor: diminua sempre a alegria no mundo, até se extinguir totalmente. Não quer isto dizer que não devemos alegrar-nos, enquanto estamos neste mundo; mas que, mesmo vivendo neste mundo, já nos alegremos no Senhor. Mas pode alguém observar: Eu estou no mundo; por isso, se me alegro, alegro-me precisamente onde estou. E daí? Por estares no mundo, não estás no Senhor? Escuta o mesmo Apóstolo, que, ao falar aos atenienses, dizia a respeito de Deus e do Senhor nosso criador, como lemos nos Actos dos Apóstolos: N’Ele vivemos, nos movemos e existimos. Ora quem está em toda a parte, onde é que não está? Não era para isto que ele nos exortava: O Senhor está perto, não vos inquieteis com coisa alguma? Admirável realidade é esta: Aquele que subiu acima de todos os Céus, está próximo dos que habitam na terra. Quem está longe e perto ao mesmo tempo, senão Aquele que por misericórdia Se tornou tão próximo de nós? Na verdade, todo o género humano está representado naquele homem que jazia meio-morto no caminho, abandonado pelos ladrões. Desprezaram-no, ao passar, o sacerdote e o levita; mas o samaritano, que também passava por ali, aproximou-se para o curar e socorrer. O Imortal e Justo, embora estivesse longe de nós, mortais e pecadores, desceu até nós, para ficar perto de nós quem antes estava longe. Na verdade, Ele não nos tratou segundo os nossos pecados, porque somos filhos. Como podemos provar isto? Morreu por nós o Filho único para deixar de ser único. Não quis ficar só, Ele que morreu só. O Filho único de Deus fez surgir muitos filhos de Deus. Comprou para si irmãos com o seu Sangue: quis ser condenado para nos justificar, vendido para nos resgatar, injuriado para nos dar glória, morto para nos dar vida. Portanto, irmãos, alegrai-vos no Senhor e não no mundo: quer dizer, alegrai-vos na verdade e não na iniquidade; alegrai-vos na esperança da eternidade e não nas flores da vaidade. Alegrai-vos assim em toda a parte e em todo o tempo que viverdes neste mundo: o Senhor está perto, não vos inquieteis com coisa alguma.