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sábado, 14 de dezembro de 2013

Veja sugestão de sete livros sobre a história de Israel e seus conflitos


RICARDO FELTRIN
Editor-chefe da Folha Online

Tentar entender um pouco da história da convivência entre judeus, cristãos e muçulmanos no Oriente Médio é tarefa fascinante, mas para uma vida. Há tantas versões, narrativas, leituras e métodos de análise envolvidos, de todos os lados, que resta ao interessado apenas mergulhar na literatura e tentar construir sua opinião.
Cabe lembrar que boa parte da história militar de Israel, especialmente após 1973, ainda não foi pesquisada, pois é tratada como assunto de segurança interna e segue em arquivos confidenciais.
Mesmo assim a literatura ainda é a principal ferramenta na busca de uma compreensão histórica, equilibrada --e não militante-- sobre essa região, talvez a mais complexa do mundo, por englobar três dos mais poderosos universos religiosos. Veja uma relação de sete livros que podem ajudar nessa tarefa:
'A História de Israel', de Antonius Hermann Josephus Gunneweg (1922-1990), ed. Loyola: Obra do professor judeu-holandês, sobrevivente do nazismo, que vincula relatos do Velho Testamento a achados arqueológicos e históricos. Trata-se de um material didático, muito professoral e detalhado. Revive a origem e crescimento das filosofia e ideal sionistas na Europa do século 19. Gunneweg desenvolve a história de Israel muito mais sob o ponto de vista geográfico, de um povo com fé milenar, do que o político. Aponta as origens do ódio e da perseguição aos judeus por cristãos e muçulmanos, e mesmo antes disso. Mostra ainda a evolução das comunidades judaicas na chamada Palestina histórica séculos antes do nascimento do Estado israelense.
'Em Defesa de Israel', de Alan Dershowitz, ed. Nobel: É praticamente um tratado jurídico de defesa não só de Israel, mas também de sua política interna e externa a partir de 48. Derschowitz trata a Israel como a um cliente num fictício banco de réus, onde são apresentados argumentos contra o país e sua política diplomática e militar. O autor rebate, por exemplo, as teses de quem acusa o país de misturar a religião às leis do próprio Estado. Na busca de uma "defesa jurídica perfeita", o escritor acaba fazendo uso de contra-teses frias, acusadas de ausência de humanismo. Não deixa de ser pertinente: entre outras idéias, Dershowitz cogita que só há o chamado 'problema' dos refugiados palestinos porque, durante a guerra de 48, Israel expulsou os árabes, mas não os matou. Uma visão extremista, embora absolutamente transparente.
'Seis Dias de Guerra', de Michael Oren, ed. Bertrand Brasil: É considerado o mais completo estudo sobre o conflito de 67 já publicado, mas há controvérsia sobre seu valor integral. Entre as teses de Oren está a de que as Forças de Defesa de Israel encontraram pouquíssima resistência na guerra da independência, e que houve muita fuga em massa 'voluntária' de árabes-palestinos das vilas que estavam sendo tomadas/atacadas por Israel. Parece tentar isentar a FDI da acusação de massacres. pois minimiza a importância --e a violência-- da ação de grupos judeus contra árabes, como o Irgun Leumi, a gangue Stern e a Haganá (que acabaram se incorporando às FDI, mas cometeram atos que podem ser chamados de terroristas). Algumas narrativas se tornam dúbias quando comparadas ao relato dos próprios judeus que estavam lá na guerra, como Moshe Dayan. Diferentemente do que os maiores entusiastas do livro dizem, o estudo de Oren não traz documentos inéditos sobre o período. Boa parte dessa história continua oculta. Mas faz parte da lista de livros obrigatórios, assim como o próximo.
'Imagem e Realidade do Conflito Israel-Palestina, Norman Finkelstein, ed. Record': Professor em Nova York e Chicago, é um dos mais famosos, polêmicos, detalhistas e criticados historiadores do Oriente Médio. Antes de 'Imagem e Realidade', sua obra mais célebre foi "A Indústria do Holocausto", acusada de ser um tratado de anti-semitismo puro. Tal ataque é maniqueísta também. A 'Indústria...' em nenhum momento questiona a importância para a humanidade, e muito menos põe em dúvida o o genocídio. Apenas questiona atitudes de algumas organizações em busca de reparação judicial indevida. Vale frisar: indevida. Em 'Imagem e Realidade', assim como fizeram seus colegas Noam Chomsky e Edward Said (1935-2003), Finkelstein bate pesado na política israelense atual e na estratégia do sionismo desde sua origem. Critica e desanca relatos do livro de Michael Oren e acusa de "farsa vergonhosa" outra obra, de Joan Peters, sobre a suposta composição geográfica da Palestina histórica ('From Time Immemorial', sem tradução em português). Judeu, filho de sobreviventes do Holocausto, se tornou um escritor ao mesmo tempo respeitado e detestado. E também obrigatório.
'Os Nazistas e a Solução Final - A Conspiração de Wannsee', de Mark Roseman, ed. Jorge Zahar: Ainda hoje não há quem entenda como o Estado alemão pôde criar, legalizar e aplicar tantas medidas de ódio e desprezo contra parte da raça humana, representada pelos judeus. Mas a verdade é que a construção de câmaras de gás e campos de extermínio nos anos 40 são somente a fase final de uma política delirante, paranóica e criminosa, que começara cerca de dez anos antes, nas origens do Terceiro Reich. Embora tenha sido realizada em janeiro de 1942 pelo segundo escalão da Wermacht, sem ninguém da cúpula de Hitler presente, a Conferência de Waansee é considerada um divisor de águas para os judeus: é prova de que um Estado, o alemão, discutiu formas objetivas de eliminar um povo. Um encontro estatal para discussão de um 'método' de extermínio humano a partir da religião e cultura "inimigas".
'Anti-semitismo, a Intolerável Chantagem', vários autores, ed. Best Seller': Nove intelectuais franceses lançam um libelo contra as táticas do poderoso lobby pró-Israel, especialmente na imprensa francesa. Os autores acusam muitos militantes sionistas de usar o genocídio na 2ª Guerra para ter direito de acusar a qualquer voz dissonante de anti-semitismo. Um dos alvos é a estratégia de igualar toda e qualquer crítica à política de Israel a um suposto anti-semitismo. Os autores contidos no livro também fazem pesada rejeição a organizações judaicas que atacam empresas de comunicação, estudiosos e jornalistas com ações e pedidos de indenização por disseminação de um suposto 'anti-semitismo'. Os judeus militantes são acusados de agir de forma metódica, e mesmo fascista, para calar seus críticos.
'A Eleição de Israel - A Polêmica entre Judeus e Cristãos sobre a Doutrina do 'Povo Eleito'', de Ariel Finguerman, ed. Humanitas: Ensaio equilibrado e didático sobre as origens da reivindicação dos judeus (e cristãos) de serem o 'povo escolhido' por Deus. Se, em sua base, o Judaísmo faz essa reivindicação de forma verbalmente clara, o mesmo não ocorre com o Cristianismo. Só que o discurso de "destino manifesto" das duas religiões acaba sendo praticamente o mesmo. Com Finguerman, entende-se que a Inquisição (entre os séculos 13 a 18) não foi senão uma outra imposição, inclusive militar, de um outro auto-intitulado "povo escolhido". De outro lado, pode-se concluir que, seja qual for o povo que reivindica a "auto-eleição", que esse argumento é e será sempre será fruto de um mythhos. Portanto, questionável. Afinal é possível rejeitar a existência de qualquer ser superior apontando o dedo para este ou aquele grupo dizendo: "Esse é o meu querido". Somos a mesma espécie.

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